by Ademar Cavalcanti Silva Filho Ademar Cavalcanti Silva Filho

Começo falando de novela, isto mesmo, de novela daquelas que são exibidas no horário das 21:00, que mostra o Tocantins, o Jalapão e uma mina de esmeraldas (garimpo ilegal) que mesmo sendo uma obra de ficção de livre criação dos autores, reforça a percepção negativa da imagem da atividade de mineração que a maioria da população tem desta importante atividade econômica de utilidade pública. Basta lembrar que aproximadamente 100 milhões de brasileiros assistem a novela das 21:00

Que mina é esta?

– Garimpo ilegal;

– Destrói o meio ambiente;

– Produção vendida para contrabandistas internacionais;

– Empregados sem nenhuma garantia trabalhista;

– Segurança do trabalho nem passa perto;

– Atividade incentiva a prostituição;

-Enriquecimento ilícito de seus proprietários;

Não vai aqui nenhuma critica à novela, pois trata-se de obra de ficção de livre criação dos autores e a tal mina serve como pano de fundo para o desenvolvimento da trama que diverte a maioria dos lares brasileiros. Mas a Mina que 100 milhões de brasileiros percebem no dia a dia é aquela que fica no outro lado do paraíso.

E daí?

E dai é que deixando de lado a ficção, grande parte da população brasileira tem pouco conhecimento sobre a importância da atividade de mineração para a sociedade e que exatamente por ser importante é considerada de utilidade pública. Outro fato é que as pessoas se manifestam negativamente em relação a atividade de mineração, percepção esta reforçada por divulgação freqüente de eventos negativos vinculados à mineração nos meios de comunicação de massa.

Não há por parte das pessoas, um entendimento claro da atividade de mineração como a primeira etapa das principais cadeias produtivas da vida moderna. “Adoro carro, não largo o celular, viajo de avião, quero minha cozinha revestida de granito, energia elétrica é indispensável, só ando de bicicleta para ajudar a salvar o mundo, temos que substituir nossa matriz energética para eólica e fotovoltaica, por ser energia limpa,mas não gosto de mineração”. Nada disto, absolutamente nada disto, existiria sem a atividade de mineração.

Recentemente li na imprensa uma declaração de um prefeito de município mineiro, onde poderá ser aberta uma nova mina de minério de ferro em que afirma que “mineração é um mal necessário”, que traz recursos para o município mas também muitos problemas sócio ambientais.

Devemos entender que os Estudos de Impactos Ambientais se realizados previamente pelas empresas e analisados pelos órgãos ambientais de forma adequada, conforme prevê a legislação é que definirão se a mina poderá ser aberta ou não. Se aberta após os estudos sócio ambientais e o devido licenciamento deverá trazer benefícios para a sociedade, não podendo ser “um mal necessário”.

Esta percepção negativa só mudará se houver um contra ponto eficaz no processo de comunicação por parte do setor de mineração, sobre a importância do mesmo para sociedade, de forma transparente e que atinja o grande público, através dos canais de comunicação de massa e das mídias sociais e com o controle de que a informação atingiu o seu objetivo.

Existem sim iniciativas por parte da industria da mineração no sentido de melhorar a imagem do setor, entretanto estas iniciativas em sua maioria são ainda tímidas e atingem principalmente o público já envolvido com a industria de mineração, que entendem perfeitamente sua importância. Ao grande público deve-se comunicar fortemente a importância da atividade para a sociedade e seus benefícios, como faz o agronegócio a meu entender de forma mais eficaz.

A Mineração é de fato uma atividade de risco como muitas outras, mas estes riscos podem e devem ser minimizados com o uso de novas tecnologias, nas fases de projeto, implantação, operação e fechamento das minas, por exemplo, no manuseio e deposição de rejeitos.

Hoje praticamente todas as Empresas de mineração de grande e médio porte no Brasil, tem escrito e divulgado suas Crenças e Valores, Políticas de Meio Ambiente e Segurança, muitas são certificadas na ISO 14001, OHSAS 18000, etc. estando assim preocupadas com sua imagem e reputação.

A reputação corporativa.

A reputação é algo maior que a imagem corporativa e a existência da mesma fica mais evidente em momentos de crises. Nestes momentos é que se evidencia se as Crenças e Valores Organizacionais são realmente praticadas, isto é, se a reputação das Organizações são reconhecidas pelos stakeholders.

Reconhecer e comunicar os deméritos (problemas) e não só os méritos, de forma clara e transparente reforça a reputação. Informar as ações de mitigação de problemas que afetam partes interessadas, inclusive empregados, e cumpri-las conforme planejado reforça a reputação. Em suma, fazer o que se diz nas Políticas, Crenças e Valores.

No meu entendimento a industria de mineração normalmente é mais eficaz na divulgação de deméritos (problemas) de forma reativa, do que quando divulga os méritos e a sua importância para a sociedade de forma proativa, até pela necessidade de responder as notícias negativas divulgadas pela mídia. A postura “low profile” só é deixada um pouco de lado, quando a mídia pisa “no calo” das Empresas.

Felizmente percebo mudanças na industria de mineração na comunicação com partes interessadas, seja para comunicar problemas de forma franca e transparente e agir prontamente, seja em comunicar os méritos fazendo com que a percepção da sociedade seja construída a partir de informações contextualizadas.

Cito aqui tres exemplos:

 “Casa Kinross resgata a historia de Paracatu e da mineração”

“Na semana de aniversário de Paracatu a Kinross presenteia a cidade com a inauguração da Casa Kinross. O local funcionará como um museu interativo, que fará um resgate histórico e contextualizará todo o processo de desenvolvimento econômico e cultural da cidade, por meio de memórias e registros desde o século XVIII até os dias de hoje. O local também servirá como um espaço cultural e de convivência.

A equipe do Museu da Pessoa de São Paulo foi a responsável pela metodologia, por ser uma empresa referência e já ter realizado mais de 250 projetos de memória no Brasil e exterior. A coleta de informações foi realizada presencialmente em Paracatu, os historiadores levantaram informações e realizaram entrevistas com diversos personagens locais. “A equipe do Museu da Pessoa conversou com agricultores, pessoas ligadas à cultura local, historiadores, funcionários antigos da Kinross, dentre outras fontes que ajudaram a resgatar as memórias que serviram como base para o Museu. Todo esse conteúdo será disponibilizado em painéis, vídeos e documentários”, revela a gerente sênior de Comunicação e Relacionamento com Comunidades da Kinross, Ana Cunha.”

Imagens Casa Kinrros

Potássio do Brasil constitui um Conselho de Representantes Locais em Altazes – AM”.

A Potássio do Brasil é uma Empresa de mineração constituída no Brasil, em processo de instalação no município de Autazes – AM que produzirá Cloreto de Potássio a ser usado na agricultura. O Brasil é altamente dependente deste insumo mineral, importando mais de 95% de suas necessidades. Por isto a importância do projeto para o Brasil.

Desde 2013, bem no inicio de suas atividades de implantação do empreendimento a Potássio do Brasil estabeleceu um dialogo aberto, proativo e formal com as comunidades direta e indiretamente afetadas visando ouvir e informar estas comunidades sobre o projeto.

Para este propósito foi criado um Comitê de Representantes Locais (CRL) constituído por 16 representantes dos diversos setores da sociedade local, constituídos de forma independente, para facilitar e promover o dialogo com as lideranças comunitárias, inclusive comunidades indígenas.

A cada trimestre este CRL, promove reuniões abertas com participação da comunidade, para levar suas percepções sobre o projeto, contribuir e trazer eventuais demandas para a Empresa. Também anualmente é promovida a semana do Potássio em Altazes, com o foco na educação sócio ambiental em todas as escolas da sede do município e escolas rurais.

“Percebemos que uma relação de confiança da comunidade somente acontece com a transparência e comunicação das ações da empresa. Com estes encontros, a comunidade contribui para o projetos trazendo suas dúvidas e sugestões” afirma Guilherme Jácome, Diretor de Projetos da Potássio do Brasil.

Importante observar que a economia do município de Altazes no Amazonas é voltada para a pecuária e agricultura de subsistência, sendo conhecida como “A cidade do Leite”. Com a chegada do Empreendimento da Potássio do Brasil a própria cidade passou a se auto denominar como a “Cidade do Leite e do Potássio”, denotando uma forte aceitação do projeto que lá se desenvolve.

Reuniões do CRL – Potássio do Brasil

Acidente com mineroduto da Anglo American.

Foi divulgado amplamente nos meios de comunicação duas ocorrências de acidentes ambientais no mineroduto da Anglo American nos dias 12 e 29 de março de 2018, com vazamento de polpa de minério de ferro, impactando o leito do córrego Santo Antonio do Grama no município mineiro de mesmo nome.

Segundo informação no site da Empresa houve vazamento de 300 t e 174 toneladas de polpa de minério de ferro, classificado como material não perigoso, no córrego citado acima, nos dias 12 e 29 de março, respectivamente.

Visando entender o processo de comunicação da Empresa com as partes interessadas, procuramos informações na internet, não apenas no site da Empresa, mas também em outros como no site da Prefeitura do município e na imprensa.

Identificamos um rápido processo de comunicação para Imprensa, Prefeitura e órgãos ambientais e demais partes interessadas, de forma clara informando o que ocorreu e as medidas de mitigação e suporte imediatas às comunidades afetadas. Identificamos também um processo de atualização das informações. Estes comunicados à Imprensa e partes interessadas estão disponíveis no site da Prefeitura de Santo Antonio do Grama. A Empresa mantém em seu site uma “Central de Informações do Mineroduto”

Percebe-se também que houve rápida mobilização para mitigação dos impactos e atendimento das demandas das partes interessadas do município, principalmente pelo fato da interrupção no abastecimento de água potável. Deve-se destacar também um pedido formal de desculpas da Empresa, feita pelo CEO.

A Empresa interrompeu as operações por no mínimo noventa dias, tornada obrigação pelo Órgão Ambiental fiscalizador, até que as causas dos dois acidentes sejam identificadas. Acidentes como estes que ocorrem na industria da mineração são de fato inaceitáveis e suas causas precisam ser identificadas para que não se repitam.

Em casos como estes, parar as operações até que se identifique as causas é necessário e comunicar de forma clara e transparente, mais ainda.

Imagem das ações de mitigação dos impactos – Anglo American

A atividade de mineração precisa ser percebida como ela realmente é, de utilidade pública, indispensável para a sociedade moderna e para isto uma comunicação eficaz com a sociedade é indispensável. Como atividade de risco deve ser realizada com o estado da arte em termos de tecnologia e gestão, para que fatos inaceitáveis que afetem as pessoas e o meio ambiente não ocorram, ou não se repitam.

Fontes de informações:

kinross.com.br;

paracatu net;

fdc.org.br;

brasil.angloamerican.com;

brazilpotash.com;

www.santoantoniodograma.mg.gov.br/

g1.com

Ademar Cavalcanti

Consultor – SCI FRACTAL – Sistema de Consultoria Integrada para Sustentabilidade Ltda.

[email protected]

www.scifractal.com.br