Para entender o “Risco” precisamos entender alguns conceitos básicos que sem eles fica difícil tratar o assunto de modo didático.
Risco é algo mensurável, ou seja, tem dimensões, na realidade são duas as dimensões que permitem calcular o risco, uma é a severidade outra é a probabilidade.
A Severidade é uma escala que busca definir o tamanho do dano ou prejuízo que poderia ser causado por um determinado risco, normalmente a escala de severidade é definida em valores monetários, mas há exceções como por exemplo para a segurança ocupacional onde é recomendado uso de escala de gravidade do acidente segundo critérios não financeiros.
Exemplo de Severidade para risco Ocupacional
Toda organização precisa definir para qualquer sistema de gerenciamento de risco que queira implantar sua própria escala de prioridades nos riscos do negócio, como financeiros, riscos de produção, riscos ambientais etc. que podem ser traduzidos para uma escala de impacto financeira.
Referindo-se a outra escala do Risco temos também a dimensão “Probabilidade”, que pode ser definida com a chance de algo acontecer em outras palavras é a possibilidade de ocorrência de determinados fatos.
Existem duas abordagens para o assunto probabilidade, probabilidade de frequência, probabilidade Bayesiuana.
No caso de gestão de risco vamos nos ater a probabilidade de frequência que é a mais utilizada nos estudos de risco, é a probabilidade definida por alguns fenômenos físicos aleatórios, como jogo de dados, jogos de roleta, acidentes de uma forma geral etc.
Exemplo; a probabilidade de sair um número qualquer num jogo de dados é de 0,16666… ou 16,666% de chances de sair pode ser calculada por:
Probabilidades = Número de Eventos favoráveis de ocorrer / Número de Possibilidades de ocorrência total do vento num espaço de tempo
A grande dificuldade na gestão de risco no cálculo de probabilidade é a qualidade do dado, ou falta de registro histórico de falhas.
A lei mais importante da física é a segunda lei da termodinâmica que estabelece que todo sistema tende para um nível de energia mais baixo, tudo tende a um estado de maior desordem. Então para fazer uma certa quantidade de água subir a montanha gasta-se mais energia que a energia gerada pela descida desta mesma quantidade da água.
Em outras palavras como qualquer sistema em operação este estará perdendo energia para realizar trabalho e vencer os atritos e como o sistema tende para um estado geral de maior desordem (degradação) podermos afirmar que não existe sistema aprova de falhas, num tempo longo tudo falha ou tudo irá falhar no universo.
Então segundo a segunda lei da termodinâmica não existe falha zero, irão haver falhas que ocorrerão com maior frequência e outras com menor frequência, mas não haverá sistema que opere eternamente sem falha.
O histórico de falha é de fundamental importância em qualquer avaliação de “Risco”, porque 80% de suas falhas futuras já estão contabilizadas no seu passado, se você analisar o passado poderá tomar decisões para evitar o modo de falha no futuro, ou reduzir seu impacto sobre o negócio, sua vida pessoal, meio ambiente, segurança ocupacional etc.
Como não existe falha zero num tempo infinitamente longo todas as falhas irão ocorrer, então podemos afirmar que não haverá acidente “Zero” também, podemos obter níveis de falhas muito baixos e aceitos segundo padrões internacionais, mas nunca será possível ter zero acidente no universo.
Do ponto de vista da segurança para os leigos isto pode estar em desacordo com discursos de muitas empresas que afirmam que estão buscando acidente zero, estão buscando algo cuja empresa/negócio não tem recursos financeiros nem tecnológicos para atingir tal resultado.
Então porque vamos estabelecer um sistema de gestão de risco se não existe falha zero nem acidente zero?
A resposta é simples, para entenderem melhor vou usar como exemplo o que ocorre na nossa sociedade devido aos avanços área da medicina, ciência e tecnologia.
As ciências em conjunto com a medicina têm obtido avanços significativos em nossa expectativa de vida, dobramos nossa expectativa de vida nos últimos séculos, mas apesar de toda evolução, sabemos que a vida terna não é possível. O corpo humano vai falhar em algum momento. Em relação ao acidente vai ocorrer a mesma coisa.
Não é pelo fato de o corpo humano ser a prova de falhas que a ciência e a tecnologia e medicina irão parar de buscar melhores resultados para aumentar nossa qualidade de vida e sobre tudo nossa expectativa de vida.
Do mesmo modo vale para segurança por exemplo, apesar de não existir acidente zero, os números de acidentes e taxa de frequência de acidentes ocupacionais de determinados países são elevados quando comparados com países que utilizam metodologia de gestão de risco e segurança ocupacional.
Há também diferenças significativas de taxa de fatalidade por região e o tipo de atividade agrícola, indústria e serviços, aquelas atividades que estão sob maior exposição obtêm resultados com maior taxa de fatalidades.
Como a Austrália conseguiu taxas de falhas tão baixas enquanto resto do mundo tem mais de 10 vezes a taxa da Austrália. Resposta vai estar na gestão de risco e na cultura de risco.
Podemos observar que regiões mais desenvolvidas com maiores recursos obtêm melhores taxas que sociedades com menor grau de instrução e recursos disponíveis.
A pergunta que todos devem estar agora se fazendo é se não existe acidente zero, qual a taxa de acidente fatal ocupacional é aceitável?
Existem já estabelecidos padrões internacionais de aceitabilidade do risco! Como zero não é possível com o desenvolvimento tecnológico atual qual seria o nível aceitável de fatalidades ocupacionais então?
As culturas mais desenvolvidas de risco já têm uma resposta para tal pergunta. Olhando o ábaco abaixo temos os números aceitos internacionalmente em relação ao risco.
Traduzindo o ábaco anterior temos que 10 fatalidades por milhão de pessoas expostas por ano como risco aceitável, para cada evento que gerar uma fatalidade, podemos ver que esta escala vai aumentando o rigor quando falamos em eventos que podem levar a maior numero de fatalidades.
De um modo geral o índice aceitável internacionalmente é o de 10 fatalidades por milhão de pessoas expostas por ano, neste caso podemos ver que no Brasil estamos com taxas de fatalidades muito acima do índice internacionalmente aceitável (Brasil = 64,3 fatalidades por milhão).
Temos um longo caminho pela frente na gestão de risco para atingir resultados como obtidos em Nações com Australia, Nova Zelândia, Japão.