by Juarez Barbosa Juarez Barbosa

Tentando entender e responder as pessoas que perguntam sobre os riscos do rompimento de barragens e dado o evento acontecido ontem 25/01/2019, com acidente da barragem de Brumadinho, me dediquei a estudar o assunto do ponto de vista do risco.

É obvio que este assunto pode e deve ser debatido tecnicamente por geotécnicos e engenheiros civis, mas podemos baseado no histórico de eventos fazer uma avaliação de risco ter uma real percepção de quão seguro ou inseguro, viver, trabalhar em ambientes sujeito ao risco de rompimento de uma barragem.

Existem hoje mais de 3.500 barragens de rejeitos localizadas em todo o mundo e entre 25.420 e 48.000 barragens de abastecimento de água segundo estudo “Long-term Risk of Tailings Dam ”escrito por David M. Chambers
O Brasil possui um cadastro com 24.092 barragens segundo a agencia nacional de águas, para as mais diversas finalidades como acúmulo de água, de rejeitos de minérios ou industriais e para geração de energia etc.

Só no Brasil existem 790 barragens de contenção de rejeitos de mineração, considerável número de barragens de rejeito qdo comprado com os totais de barragens existentes no mundo, isto é decorrente das intensivas atividades de mineração no Brasil.


Registros de Acidentes

Só em 2008, houveram 77 rompimentos de barragens no Brasil, embora a maioria dos casos tenha ganhado pouca repercussão e pouco impacto, dá uma ideia do cenário que estamos inseridos (fonte Agencia Nacional de Águas)
Bem, olhando já para estes números podemos afirmar que este assunto é sem dúvida importante de ser analisado em relação ao risco da exposição da sociedade e risco de danos ambiental, dada frequência de exposição.
Buscando informações de acidentes em outros países podemos verificar que isto não parece ser um problema só nosso, as taxas de falhas em barragens no mundo também são elevadas.


No período de 59 anos tivemos um total de 120 eventos relacionados a existência de barragens de rejeito ou resíduos industriais dando uma média de 2 eventos por ano.

Dos 120 eventos do gráfico acima, todos tiveram impactos ambientais e financeiros, deste total 28 eventos de acidentes com barragens geraram fatalidades.

No período 59 anos ocorreram 28 eventos que geraram fatalidades, ou seja, um evento a cada dois anos, atingindo população e ou empregados, matando um total de 2.131 pessoas (*), mostrando com isto que eventos com rompimento de barragem tem alta letalidade, dando uma média 76 fatalidades por cada evento!

(*) – Incluindo neste estudo as 292 pessoas desaparecidas + 60 fatalidades do acidente com a barragem de Brumadinho.

No período de 59 anos temos registrado uma média de 36 fatalidades por ano.
Com estes dados podemos avaliar se é razoável o risco de se construir barragens dada letalidade e taxa de falha!
Taxa de Falhas considerando histórico do Gráfico acima.
Taxa de Falha = (Nº Rompimento/Nº barragem em operação por ano)
Taxa de falha da barragem de rejeito = 27/3500/69 = 1,0*E-4
Traduzindo este número, podemos calcular que 1 em cada 10.000 barragens vai falhar por ano gerando em média 76 fatalidades por evento.
Baseado neste número seria razoável permitir a construção de novas barragens de rejeito dentro do domínio tecnológico atual de engenharia para estes tipos de barragem?
Para responder esta pergunta temos que considerar a expetativa de vida de uma barragem, precisamos lembrar que uma mina pode ser exaurida e as operações encerradas, mas a barragem vai continuar lá por um período maior que a vida da Mina por 100 a 200 anos talvez.
Para um cenário para os próximos 100 anos considerando o número atual de barragens de rejeito existentes no Brasil por exemplo, se mantida as condições atuais teremos algo em torno de 8 acidentes com letalidade com expectativa de gerar mais de 600 fatalidades.
Se consideramos que a tecnologia existente de engenharia para construir uma barragem de geração de energia por exemplo que é 100 vezes mais confiável que as construções de barragem de rejeito, podemos concluir que o problema não é de tecnologia, mas sim uma decisão financeira!
Temos que iniciar esta discussão, não somos contra a indústria de Mineração, mas me parece razoável que se discuta socialmente se estamos dispostos a correr este risco ou se vamos ter que buscar outras alternativas.
Pior é que o problema não termina aí!
A pergunta que fica é o que vamos fazer com as 700 barragens existentes com expectativa de vida superior a 100 anos
Considerando ainda que a probabilidade de falha aumenta com o passar do tempo, os números no futuro quando comparados com os calculados neste post, deverão ser agravados porque tem muita barragem que se encontra no meio de sua expectativa de vida com riscos de falha crescentes.

Nosso objetivo é Salvar vidas!