by Ademar Cavalcanti Silva Filho Ademar Cavalcanti Silva Filho

Muitos clichês já foram e continuam sendo usados para identificar o Brasil. Talvez o mais conhecido, abstraindo-se do “Ordem e Progresso” seja o “Brasil, País do Futuro”. Esta expressão escrita por Stefan Zweig, escritor Judeu-Austriaco, que se radicou em Petrópolis em 1940, fugindo da Europa em guerra, em livro do mesmo nome tornou-se o mote de esperança de muitos brasileiros desde então. Somos a setenta e sete anos o País do Futuro, teremos um futuro melhor pela frente? Precisamos ter, em respeito às nossas crianças, jovens e idosos que cada vez vivem mais.

Que Brasil era este visto por Stefan Zweig?

“Em 1941, o Brasil tinha pouco mais de 40 milhões de habitantes – e 56% deles eram analfabetos. Quase 70% da população vivia em áreas rurais, e praticamente metade das exportações do País restringia-se a produtos agrícolas – o café respondia, então, por um terço de todos as vendas ao exterior. A faixa etária dos zero aos 14 anos representava 43% da população, e perto de um terço das pessoas de sete a 14 anos estava fora da escola”

O exemplo da Coréia do Sul

Nas décadas de 50/60 mesmo que culturalmente e de dimensões bem diferentes, em termos econômicos éramos bem parecidos com a Coréia do Sul. “Um país essencialmente agrário listado entre os mais pobres do mundo, com infra-estrutura praticamente inexistente e povo sem instrução, com taxa de desemprego de 25% da população em idade de trabalho, renda per capita anual de menos de US$ 100 e exportações de meros US$ 20 milhões”. O agravante aqui é que a Coréia do Sul tem poucos recursos naturais.

Olhando atualmente para os dois países, percebe-se que os mesmos mudaram é claro, mas a Coréia do Sul, também olhando para o futuro, construiu um presente mais sustentável que o nosso. “O sucesso do desenvolvimento coreano neste período, transformou a pobre nação agrícola em um país rico e avançado”. Os coreanos fizeram o dever de casa, educação de seu povo acima de tudo, aprendizado e uso de tecnologia de ponta, agregação de valor de seus produtos com foco em exportação, inovação, produtividade e combate à corrupção.

Estes dois países tinham um jogo a ser jogado, sendo que a Coréia do Sul venceu e nós não soubemos jogar de forma adequada por uma série de razões hoje registradas em nossa historia recente.

Brasil – O Pais das Oportunidades.

Muitas organizações no Brasil, inclusive governamentais, aprenderam com o movimento da Qualidade Total iniciada no final da década de 80, liderada pelo Prof. Falconi via Fundação Cristiano Otoni (UFMG), que “nossos problemas são nossas oportunidades”.

Se para onde olhamos vemos problemas no Brasil, digo que este país é o país das oportunidades. Temos que fazer o dever de casa como cidadãos, como empresas e como governo, focar no que é relevante, vital e transformar a afirmação de Stefan Zweig em realidade.

Nossos problemas, nossas oportunidades.

Educação.

Nossa grande oportunidade. Se somos muito ruins em educação entendo que é factível melhorar. São muitos problemas que podem ser de alta ou baixa complexidade mas que com vontade política e envolvimento da sociedade podem ser resolvidos.

Os grandes problemas do ensino fundamental e médio no Brasil, são evasão escolar, baixa capacitação de professores, baixa valorização dos professores, indicação política de diretores de escolas.

1.    Evasão escolar – 11,6% em 2016

2.    Formação de professores – quase 50% não têm formação na matéria que ensinam;

3.    Direção escolar – Quase 45% dos diretores de escolas públicas ocupam os cargos por indicação política, sem critérios de meritocracia;

4.    Valorização de professores – Professores Brasileiros de escolas públicas ganham menos de 50% do que de outros países avaliados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2017;

Para identificarmos possíveis exemplos a serem seguidos não precisamos visitar a Coréia do Sul. O exemplo está aqui mesmo no Brasil como casos isolados, em Sobral no Ceará e outras cidades daquele e outros Estados que seguem o exemplo de Sobral.

A “turma” de Sobral não inventou a roda, apenas usaram seus problemas como oportunidades para melhorar. Basicamente a partir de um problema em que 48% dos alunos em idade de estarem alfabetizados não liam, estabeleceram e cumprem estratégias estruturantes para:

·      Nucleação das escolas;

·      Seleção e formação de diretores e coordenadores por critérios meritocráticos;

·      Autonomia financeira, pedagógica e administrativa para as escolas;

·      Políticas e programas para alfabetização na idade correta, melhoria na proficiência para língua portuguesa, matemática e ciências, educação integral e educação de jovens e adultos.

·      Garantia de material Didático estruturado específico por série;

·      Formação em serviço para todos os professores (mestrado com garantia de vencimentos);

·      Avaliação externa censitária dos alunos, duas vezes por ano;

·      Tutoria pedagógica, administrativa e de resultados de aprendizagem;

·      Gratificação mensal do professor por desempenho da turma e premiação ao final do ano;

·      Gestão e controle de suas metas;

O gráfico abaixo mostra os resultados alcançados no IDEB, por Sobral.

Inovação

Em 1962, no inicio da Copa do mundo realizada no Chile em que o Brasil foi bi campeão ganhei de meu avo um radinho a pilha, um pouco maior do que um maço de cigarro, para ouvir os jogos. Ele me falou que o rádio era feito por japoneses. Aquilo sim era tecnologia e inovação, comparado com o nosso rádio em casa que era um trambolho grande em um móvel de madeira e funcionava a válvulas. Saí mostrando aos amigos aquela novidade em que podíamos andar pela rua ouvindo a rádio educadora de Parnaíba – PI, de prefixo PRJA4 ZYE7. !

A Parnaíba dos anos 40 a 60 era exportadora de cera de carnaúba retirada das folhas de uma palmeira da região (carnaubeira) e usada naquela época, principalmente para produção de discos da industria fonográfica mundial, substituída posteriormente por plástico, levando ao colapso a pequena industria que existia na cidade. Neste mesmo período Parnaíba importava produtos industrializados da Europa, EUA e Japão a exemplo do meu radinho de pilha e do jipe Land Hover geração I, ano 1948 que meu pai possuía.

A semelhança do exemplo acima com o Brasil como um todo não é mera coincidência. Exportamos ao longo de nossa história, pau Brasil, açúcar, café, minérios, soja, carne, boi em pé, frango, etc. em sua maioria commodities de baixo valor agregado e importamos produtos industrializados, tecnologia e serviços de alto valor agregado. É claro que o Brasil atualmente exporta produtos industrializados, mas poderíamos ser muito melhores se tivéssemos feito o dever de casa.

O gráfico acima mostra a participação das faixas de intensidade tecnológica na pauta de exportação brasileira. Quase 70% das exportações são de produtos não industrializados ou industrializados de baixa tecnologia. A solução sustentável para melhorar o desempenho do Brasil passa por inovação de forma a agregar valor a nossos produtos.

O Brasil Inova? A resposta é …menos do que deveria.

Para que haja inovação que se transforme em desenvolvimento sustentável há a necessidade de investimento em Pesquisa e Inovação (P&D), principalmente pelas Empresas.

Precisamos parar com círculos viciosos que tanto atrasam o Brasil. As Empresas investem pouco em inovação por terem “baixa rentabilidade” e buscam incentivos junto ao governo, como financiamentos para inovação com baixo custos e alterações na legislação. Fica a pergunta não inovam por terem baixa rentabilidade ou tem baixa rentabilidade porque não inovam?

O gráfico abaixo mostra que investimos em torno de 1,2% do PIB, muito abaixo do que outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. O agravante é que apenas 40% destes investimentos Em P&D é feito por empresas privadas.

Inovar é preciso

Estabelecer metas sem os meios para atingi-las é o mesmo que “não estabelecer meta e depois dobrar a meta”. No início do primeiro mandato Dilma foi traçada uma meta para “Levar o empresário brasileiro a aplicar 0,9% do PIB em pesquisa e desenvolvimento até 2014”. Incentivos foram fornecidos via BNDES, mas os investimentos das empresas não cresceram e permaneceram na ordem de 0,5% do PIB.

Em seu discurso de posse do segundo mandato em 01/01/2015 Dilma afirmou:

Daremos prioridade ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, estimulando e fortalecendo as parcerias entre o setor produtivo e nossos centros de pesquisa e universidades. Um Brasil mais competitivo está nascendo também, a partir dos maciços investimentos em infra-estrutura, energia e logística “ .

O fato é que as reivindicações das Empresas Brasileiras continuaram:

·       “Se nada for feito o Brasil levará seis décadas para alcançar a meta de Dilma”

·      “ A baixa rentabilidade das empresas é o principal entrave”;

·      “O dinheiro para inovação vem primordialmente do resultado operacional das companhias;

·      “Demora na emissão de patentes, que levam em média 10 anos para serem emitidas;

·      “ O marco legal da inovação precisa ser votado, para reduzir entraves”;

Made in China – 2025

Enquanto patinamos a “ China estabeleceu uma meta governamental para transformar a mesma de fabricantes de “produtos baratos”, para um importante produtor de robôs, aviões, carros elétricos, medicamentos, equipamentos espaciais, etc. Essa meta governamental tem nome e prazo de validade: “Made in China 2025”.

 Para alcançar esses objetivos, o país tem criado, e continuará criando, ao lado de grandes empresas, parques tecnológicos, incubadoras e startups. Outra aposta são os chamados “centros de excelência”, áreas na China que oferecem diversos incentivos fiscais e financeiros às empresas que buscam se estabelecer no local”.

Chinalinktraking.com

O registro de patentes no Brasil

Um dos indicadores de inovação de um pais é o número de registros de patentes e marcas. No final de 2016 o Brasil tinha uma fila de 244 mil patentes e 422 mil marcas aguardando análise do INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, sendo que o prazo para análise e definição de uma patente é da ordem de 11 anos. Como sempre as “causas” indicadas são falta de recursos e falta de pessoal. Apenas como comparação os USA, leva em media 2,5 anos para registrar uma patente. Fica evidente que muitas inovações produzidas no Brasil podem ficar obsoletas, antes de serem patenteadas, em função do tempo de definição de uma patente.

O gráfico acima, mostra o crescimento de pedidos de patentes pelos países pertencentes ao BRICS, conjunto de países que tem o estágio econômico muito parecidos e considerados como emergentes, por terem seus mercados econômicos em desenvolvimento. Estes países quando da criação do termo BRICS tinham várias características em comum, faço aqui uma avaliação de cada uma destas características com relação ao Brasil:

O gráfico abaixo mostra a evolução negativa do PIB, nos últimos anos, com forte recessão de 2014 a 2016. Em 2017 inicia-se uma pequena retomada da economia, entretanto os números projetados para 2018, continuam sendo revisados para baixo, por especialistas e pelo próprio governo.

Antes tarde do que nunca

Em 08/02/2018, entrou em vigor o decreto nº 9.283/2018 que instituiu o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação que regulamenta a Lei nº 13.243/2016, o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação que traz a expectativa de desburocratizar as atividades de pesquisa e inovação no país. As novas regras criam mecanismos para integrar instituições científicas e tecnológicas e incentiva investimentos em pesquisa. Encontra-se atendida portanto, as reivindicações das Empresas privadas. Será que agora a coisa anda ? Só o tempo dirá.

O que podemos fazer enquanto País

1.    Precisamos diminuir a pobreza aumentando as chances de jovens terem acesso a educação de qualidade, principalmente nos níveis fundamental e médio;

2.    Aumentar os níveis de ensino profissionalizante pelo governo e de qualificação profissional dentro das empresas, aumentando as chances de que pessoas ascendam social e profissionalmente;

3.    Gastar melhor os recursos existentes. O que deve ser priorizado pelo governo? Ensino fundamental e médio ou ensino superior?

4.    Reduzir os entraves burocráticos para que a inovação no pais possa aumentar.

5.    Priorizar programas de distribuição de renda, entretanto com as contra partidas sendo cumpridas, principalmente aquelas para manutenção de crianças nas escolas;

6.    Continuar combatendo a corrupção.

O que podemos fazer enquanto cidadãos

Votar responsavelmente, esta é a resposta mais comum. Sim temos eleições em 07/10, primeiro turno e 28/10, segundo turno e devemos exercer este direito escolhendo candidatos que se comprometam com a mudança necessária. Entretanto, esta mudança só se completará em décadas se começarmos agora. É missão para algumas gerações.

Mas não só isto, por que não começarmos a pensar seriamente em assumir cargos políticos eletivos no âmbito municipal, estadual e federal, dentro de um processo efetivo de substituição da classe política atual, visando agilizar as mudanças necessárias ?.

Não é tarefa fácil pois a própria reforma política necessária tem sido empurrada com a barriga, afinal quem vai aprovar uma reforma contra seus próprios interesses ?, mas alguns novos partidos estão surgindo e apresentam propostas bastante interessantes.

A pior postura possível das pessoas é a indiferença com o que possa está ocorrendo ao nosso redor, com uma atitude de apenas reclamar dos políticos e do povo brasileiro. Temos que intensificar o nosso envolvimento como cidadãos voluntários, com pequenas atitudes no dia a dia repassando nossos conhecimentos e competências. (divulgarei, qualquer hora, minhas experiências pessoais)

Há alguns dias atrás conversando com um adolescente, onde ele reclamava muito da situação atual do país e defendia a intervenção militar, tentei mostrar a ele as desvantagens deste caminho, inclusive relembrando a nossa experiência com a ditadura militar. Perguntei porque ele não começava a pensar e a se preparar para assumir uma carreira política e participar ativamente das mudanças que o pais precisa. Foi o mesmo que xingar o garoto. “Jamais, jamais farei parte do time destes políticos corruptos e ladrões”. Virou a cara e a nossa conversa se encerrou ali.

Estava explicito na mente daquele garoto que cargo político é função para ladrão e corrupto, algo inaceitável para alguém ético. Precisamos mudar este paradigma da mente dos jovens e de todos nós, caso contrário, quem conduzirá a mudança na esfera política?

Ademar Cavalcanti