by Juarez Barbosa Juarez Barbosa

Não existe correlação entre acidentes de baixa gravidade e o acidente fatal

Infelizmente a engenharia de segurança por um longo período viveu de falsas filosofias e crenças equivocadas que não ajudam no desenvolvimento da engenharia de segurança e até certo ponto atrapalharam.

Muito se deve ao fator de não ter tido dedicação para estudar realmente alguns assuntos e ficaram sentados sobre discursos falsos discursos e crenças que nos conduziram a caminhos pouco virtuosos.

Uma destas crenças vamos tratar neste post:

“A crença que trabalhar na base da pirâmide de risco vai te permitir reduzir e ou eliminar os eventos fatais ou incapacitantes como evento de topo ”

Um dos primeiros pesquisadores a versar sobre o assunto prevenção contra acidentes, e dar um tratamento mais cientifico ao assunto, foi H. W Heinrich, no seu livro Prevenção de Acidentes Industriais, escrito em 1920, onde ele desenvolveu certos axiomas que ainda hoje constituem um dos alicerces do trabalho de prevenção contra acidentes.

Baseado nos dados que levantou, Heinrich foi o primeiro a estabelecer uma relação de número de acidentes e gravidade através da pirâmide editada em seu livro Industrial Accident Prevention editado em 1950.

 

Heinrich

O Fato de Heinrich identificar que os acidentes seguiam uma distribuição em forma piramidal, confirmado posteriormente pelos estudos de Frank Bird que aperfeiçoou os dados e criou a famosa Pirâmide de BIRD conforme figura abaixo, gerou se a crença que o evento de topo fatalidades era decorrente de vários pequenos desvios e acidentes de pequena gravidade que acabavam estartando o evento de topo fatal.

Bird

Esta crença gerou muita energia e esforço visando eliminar o risco de fatalidade trabalhando com risco de pequena severidade quando na verdade isto não acontecia e não acontece.

Nos idos de 2007 quando começamos a usar as ferramentas de confiabilidade para análise de risco nos deparamos com a realidade nua a crua que:

Não existe correlação entre eventos de pequena severidade com os acidentes que geram fatalidades, a não ser que o evento que gerou acidente de baixa severidade tenha potencial de gerar fatalidades.

A informação mais importante então é:

Sempre determinar qual é o Potencial de Severidade do Evento, seja ele “Quase Acidente” ou “Acidente”.

Vamos ao Fatos e Dados

Vemos no gráfico abaixo os resultados de uma Mineração no Brasil, podemos ver que mesmo fazendo um esforço muito grande e reduzindo a taxa de acidentes, não obteve resultados no mesmo período em relação a Taxa de fatalidades, somente qdo a Empresa iniciou programas de redução de Risco de Fatalidades reverteu esta curva de taxa de fatalidades de forma significativa.

 vale

Olhando por sua vez as estatísticas de acidentes nos Estados Unidos vemos o mesmo comportamento, reduções nas taxas de acidentes sem nenhuma correlação com a taxa de acidentes fatais.

USA

Dados históricos de acidente ocupacionais do Brasil seguem igual comportamento, veja gráfico abaixo

Brasil

É preciso entender então que estamos tratando com dois universos distintos, atuar na base da pirâmide não vai melhorar os resultados de taxa de fatalidade.

Do ponto de vista do Risco a estratégia para redução de acidente deve começar com os riscos de maior severidade ou com elevado potencial de severidade, não faz sentido ficar preocupado com martelada no dedo quando não se tem um plano robusto de redução do risco de fatalidades.

Se você quer fazer segurança de modo sério você precisa:

  1. Estudar seu histórico com base no Potencial de Risco do Acidente, porque 80% de seu Histórico volta a se repetir. Um Quase Acidente com potencial fatal tem muito mais importância que um acidente ocorrido, mas de baixo potencial de severidade.
  2. Fazer um levantamento dos riscos potenciais por grupo de risco, considerando as possibilidades de acidentes que não fazem parte de seu histórico também. O fato de nunca ter ocorrido um incêndio na sua empresa, não pode ser descartado porque não faz parte de seu histórico.
  3. Fazer um plano de ação contemplando e priorizando os riscos de acidentes fatais com maior probabilidade de ocorrer. Levar em consideração a taxa de falha histórica e tempo de exposição.
  4. Auditar o Plano, você vai descobrir que muito relato de quase acidente e acidente com potencial fatal foi negligenciado.

Uma empresa que não tem um plano de “Gestão e Redução de Risco de Fatalidades”, ainda não está fazendo segurança do trabalho de modo correto.

 

“Nosso objetivo é salvar vidas”